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Epitáfio
ADONIRAN E O MEU EPITÁFIO

O compositor e cantor Adoniran Barbosa (João Rubinato, 1912 - 1982) nasceu na cidade de Valinhos, Região Metropolitana de Campinas, São Paulo, no dia 6 de agosto. Um leonino! Adoniran, que faleceu em 1982, ano que fundei a Scortecci Editora, é autor das canções “Saudosa maloca” (1951), “Trem das Onze” (1964) e “Tiro ao Álvaro” (1960), três das mais belas composições deste mundo. Gosto é gosto. Existe uma razão? Não. Nelas poetei os versos do meu “poema sem-fim”. A canção "Tiro ao Álvaro" - nas voz de Elis Regina - faz parte do meu epitáfio. Penso que vivi, até então, três releituras, que hoje compõem meu espírito. Devo ter vivido outras. Desconfio. Abaixo o meu mais recente epitáfio. Segue: "Faço da minha vida de livros um poema sem-fim". Feito isso, segue pequena lista, de vontades e desejos: Quero queimar descalço, com meias pretas, dois ou três radinhos de pilha (pilhados, claro), bandeira verde - que canta e vibra - e uma tábua de corações, para, continuar, eternamente, levando flechadas de Tiro ao Álvaro. Optei pelo fogaréu. Algo “transpira” que vou queimar fácil. Não desejo esperar pela autólise do corpo. Minha irmã “Candura” cuidará - tudo combinadíssimo - do canto do adeus, de corpo presente. Poetas cuspirão aloegos! As seis alças do caixão serão disputadas - ferozmente - na porrinha, jogo em que os participantes escondem na mão de um a três palitos de fósforo e cada um deles tenta adivinhar o total. Velas, muitas. Flores, também. Água benta, ajuda. Piadas: as melhores. Depois, então, por fim, as preces. Alma liberta! No prólogo do último verso, do poema sem-fim, escrevam: “Intenso, exagerado e apaixonado pela vida.”  

João Scortecci