A Revista PAN - Semanário de Cultura Mundial, no formato 24 x 32 cm, circulou no Brasil de 1935 até 1940, totalizando 241 edições.
O primeiro número do semanário chegou às bancas em 26 de dezembro de 1935, com selo da Editorial Novidades, de propriedade de José Scortecci, filho de imigrante italiano, de Dois Córregos, interior de São Paulo.
A Revista PAN tinha escritório e redação na Avenida Rio Branco, 91, 7º andar, sala 2, na cidade do Rio de Janeiro.
Tinha a pretensão de ser uma revista popular, aberta aos mais diversos ideais, procurando refletirem em suas colunas a fiel expressão do pensamento contemporâneo. O mundo vivia os embates da Segunda Guerra Mundial e a revista se propunha a consultar e traduzir jornais estrangeiros trazendo a seus leitores problemas e inquietações decorrentes deste conflito.
PAN não se limitou à simples reprodução de matéria editorial. Gerou também, em menor escala, seus próprios conteúdos, para o que contou com a colaboração de destacados escritores: Menotti Del Picchia, Benjamin Costallat, Silveira Bueno e Monteiro Lobato.
A PAN também se preocupava com outros assuntos: viagens, curiosidades, biografias, religião, medicina, naturismo, descobrimentos, biologia e novelas.
Nos seus primórdios, em 24 de setembro de 1936, um incêndio considerado na época como criminoso e a mando de Assis Chateubriand (nunca ficou provado tal suspeita) destruiu a sua máquina de rotogravura.
Na década de 40 a, então, emergente e desconhecida escritora Clarice Lispector publicou o conto “Triunfo”, considerado por especialistas o seu texto de estreia na literatura brasileira.
Revista PAN, 25 de maio de 1940, três páginas ilustradas.
Clarice Lispector morreu jovem, em 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos de idade. Nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia, com o nome de batismo de Haia (Vida) Pinkhasovna Lispector. De origem judaica chegou ao Brasil com apenas dois meses de idade fugindo com seus pais e irmãos da Guerra Civil Russa de 1918-1921.
O semanário PAN chegou às bancas em plena conturbação política, o governo então empenhado em debelar o movimento armado da ANL (a Intentona Comunista), no dia seguinte decretando Estado de Sítio e ordenando a prisão em massa dos envolvidos no levante e supostos simpatizantes.
Foi o suficiente para Assis Chateubriand, em editorial publicado no Diário da Noite acusar o PAN de ser um órgão comunista.
José Scortecci, Editor-Proprietário de PAN, com elegância defendeu-se das acusações:
“Permita-nos o senhor Chateubriand que lhe observemos a inconveniência de exagerar e citar dados falsos. Os proprietários de PAN foram, são e serão contrários a toda ideia política ou social que preconize a violência”.
Ao longo de sua existência o PAN nunca se livraria de ser apontado como um semanário a serviço de uma ideologia. Primeiro acusaram-no de comunista, mais tarde de fascista e num determinado momento de nazista, em função das várias reportagens sobre o Führer publicadas, incluindo capas com a sua caricatura e muitas fotos do líder alemão.
A leitura do semanário afiança a declaração de imparcialidade do seu editor. Simpatias à parte pelas ideologias europeias em evidência, o PAN soube se manter equidistante desse clima conturbado, ajustou o seu noticiário quando o Estado Novo estabeleceu um patamar de censura mais rígido, trafegou incólume pela política morde e assopra de Vargas: a dubiedade que marcou o seu Governo até o bombardeio do “Baependi” por submarinos alemães nas costas da Bahia.
PAN justificou-se enquanto pode, sempre reafirmando a sua imparcialidade. No recrudescer da guerra, diante de ânimos mais exaltados e a caça às bruxas (alemães, italianos e seus descendentes) em ação, José Scortecci entregou os pontos.
João Scortecci
Nota 1 - Informações copiladas de vários textos publicados no Portal Almanaque da Comunicação de autoria do Jornalista Colombiano, Nelson Varón Cadena.
Nota 2 - José Scortecci é avô materno do escritor e editor João Scortecci.