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De Gutenberg a Scortecci / José Antonio Riani

Prof. Tedi, filósofo renomado nos meios educacionais, e Dr. Inair, despreocupado escritor, discorriam, ao pé da escadaria de uma das principais bibliotecas da cidade, sobre uma temática muito própria para o local onde se encontravam, pois falavam do período de Johannes Gutenberg a João Scortecci.

Dizia o prof. Tedi:

- Efetivamente, a imprensa data do dia em que Gutenberg inventou os caracteres móveis, que são tipos isolados de letras, as quais, utilizadas umas ao lado de outras, imprimiam as palavras, isso lá pelos idos meados do século XV.

- Certo, professor - concorda Dr. Inair. - Mas contemporaneamente temos outro João que robusteceu e deu alma aos meandros de uma editora, contudo mais adiante pretendo retomar o João atual, porque entre os dois gostaria de destacar que existiu outro João, lá em Parma, Itália, cujo nome por inteiro é Giovanni Battista Bodoni, que, a seu tempo, foi insuperável nas artes gráficas.

Era uma serena tarde de outono do ano de 1997, e a conversação deslizava tão suavemente que os amigos resolveram sentar-se em um banco do ajardinado ao redor da biblioteca, a fim de continuarem a prosa.

Pela ordem, prof. Tedi retoma a palavra:

- Gutenberg, entre seus feitos sobejamente conhecidos, é considerado o pai da arte tipográfica mecânica, mas... me fale do João de nossos dias.

Dr. Inair, com ares de satisfação e esboçando delicado sorriso de realização, expressa-se:

- Trata-se de João Scortecci. Jovem, mas bem-estruturado executivo, abandonou sua sólida e confortável carreira para dar vazão aos seus mais altruísticos ideais, isto é, fazer jus aos dito popular de que todo homem deve criar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.

- Espere! interpela prof. Tedi. - Você quer dizer que João Scortecci montou uma editora só para que o cidadão se enquadrasse nos ditames e chavões populares?
- Especificamente não, mas, entre outras coisas, também essa - responde o Dr. Inair. - O nosso João, de ancestrais itálicos, é um dos que escreveu seu livro, tornou-se crítico literário e neste ano, perfazendo seu décimo quinto ano como editor, não só mantém sua editora de última geração, mas também toda sua organização presta consultoria a pequenos iniciantes editores, escritores principiantes e, ainda, garante boas edições aos mais famosos.

O bate-papo teria chegado ao seu final se não tivesse aparecido um terceiro amigo, o dottore Enrico Millano, que de longe vai perguntando:

- Como ha andato il professore e il romanziere?

Dr. Inair toma a frente para a resposta:

- Para quem advogou tantos anos como eu, cada processo em que atuei de cabo a rabo, ou seja, de petição inicial até o último graus de recurso, era um livro terminado. Hoje sou uno rendimento, mas pelo salário afetivo que não é voto de pobreza e sim uma proposta de felicidade, retorno gratificante ao escritor, já que sacerdócio é teoria superada e arcaica perante um socialismo moderno.

Isto posto, o encontro dos três amigos se desfez, não sem antes o Dr. Enrico Millano ficar inteirado da conversa entre o professor e o escritor, que foi de Gutenberg a Scortecci.

José Antonio Riani